Vivemos tão cheios de tarefas, obrigações, compromissos e afins, que estamos perdendo as coisas simples de nossa rápida e passageira vida. Estão se tornando banais, dispensáveis, e aqueles que as cultuam estão sendo chamados de loucos, diferentes. Mas sinceramente, você que está lendo isso já agradeceu por seu dia hoje? Abraçou alguém importante em sua vida e disse isso para ela nos últimos dias? Apreciou o céu ou as estrelas na noite passada? Caminhou tranquilamente com seus pensamentos? Dormiu em paz? Fez outras coisas que realmente são importantes para você? Provavelmente não ou muito pouco.
POR QUE NÃO?
Ainda pergunto, POR QUE NÃO?
Por que não sensibilizar sua alma com boas coisas, pinceladas de luz e calmaria dentro de um dia cheio e estressante que só tais experiências causam? Resposta difícil, não é?!
Essa característica do mundo moderno acaba afetando também o caminhar dos relacionamentos. Concorde que o jeito de namorar dos seus pais não é o mesmo do seu, e será ainda mais diferente do dos seus filhos. Os pais presavam pela interação física, o contato, cheiro e toque... talvez por não sofrer tanta influência da tecnologia ou porque é assim que tudo tem que ser, o amor. Atualmente, os filhos conversam mais pelo celular do que pessoalmente e, mesmo próximos, desviam olhares e tentam a expressividade por letrinhas. Os toques agora são quase invasivos e desnecessários. E assim o afeto vai tomando novas formas e se adaptando a necessidade da nova forma de viver.
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Está claro que a convivência dos envolvidos numa relação é movida, sim, por afeto, carinho, reciprocidade, porém, de formas diferentes, superficiais, podemos ver muitos casais com preço e prazo, movidos a presentes caros para desculpar uma traição, viagens para abafar erros repugnantes, bens e favores que constroem uma relação. À tudo isso sempre se pode dar um preço, poucas vezes um valor.
Ainda assim, conhecemos muitos casos de amores eternos, humildes e simples, sem muitos bens, mas com todo o afeto e cuidado que se pode imaginar. Aqueles velhinhos que se cuidam e se cuidaram andando por aí, superando os problemas, escrevendo, apagando e escrevendo novamente, juntos, o livro de suas vidas.... Muitos dizem que são casos raros e de muita sorte. Sorte?! Sorte em achar alguém igualmente disposto a cultuar boas coisas, gentilezas, carinho e assim construir uma relação dotada de muito mais força. Julgando os dias de hoje, pode ser que seja sim, sorte, encontrar uma pessoa assim, ou destino, chame como quiser.
O mundo precisa ver, enxergar a força que tem um abraço, a relevância de um beijo na testa, dos dedos entrelaçados. Os corpos precisam se tocar, conectar, sem planos. É preciso descobrir que transar com sentimento é muito melhor que qualquer outra coisa. “Bom dia, como está?", "Como tem sido o dia até agora?" "Toma cuidado, tá!?", não apenas frases, são gestos de carinho, demonstrações de importância. Coisas de valor! Caminhar de mãos dadas e pés descalços, ver o outro dormir e ficar quietinho... apenas observando, contar piada sem graça só para ver o sorriso bobo do outro. Simples momentos que deixam a vida singular. O jeito que te olha, te cuida, te sente, se deixa em ti... é tudo único, intenso. Dê valor, porque tudo na vida passa e o juiz-tempo não perdoa e tira de você deixando saudade e vazio.
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Um relacionamento sem valor se torna frágil, pobre, frio e medíocre. Sim, medíocre, porque se for para amar que seja por inteiro, que seja forte, como um fogo que arde sem se ver, como já dizia Camões, e não amar joias, carros e bem materiais. Ame sua vida e a interação dela com a do parceiro, ame a união, a luz dos dois, ame os fatos e sorrisos, abraços e cócegas, porque o relacionamento é assim: ter prazer em dividir sua vida, seus sonhos, seus medos, suas alegrias, suas conquistas e derrotas, compartilhar os momentos que antes só seus olhos enxergavam, expor sua mais profunda intimidade com a segurança que ela estará bem guardada, confiar seu sono e seus gostos, destinar seu tempo livre para fazer qualquer coisa, desde que seja com a pessoa que você escolheu dar valor, e que seja valor, não preço.
LR